Tertúlia Liberal

Pretende-se REFLECTIR o mundo e a sociedade, com uma nota crítica mas sem pessimismos.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Sensibilidade e bom senso

Aceite um novo desafio profissional e as turbulências inerentes a qualquer mudança, regresso a este fórum em plena silly season. E poucas terão, nos últimos anos, merecido com idêntica justeza o epíteto.
Reporto-me às "sensibilidades" de Advogados, enquanto líderes de escritórios concorrentes ou simples representantes de uma "casta" profissional relativamente às palavras de Júdice.
Guardo para mim a opinião que tenho do escritório de que este é sócio nas suas diversas práticas, mas não deixo de registar que a ideia fundamental avançada por Júdice prendia-se com a constituição de um painel de consultores jurídicos do Estado para determinadas matérias.
Na Ordem dos Advogados cruzam-se várias tendências e abordagens da advocacia; integram os órgãos da Ordem reformistas e tradicionalistas, práticas internacionais e locais, Advogados que praticam advocacia internacional e outros que se dedicam ao que sempre (com idêntica dignidade) foi tarefa de um Advogado.
O meu entendimento sobre a Ordem, o nosso Bastonário, o actual equilíbrio de poderes ou quaisquer outras matérias conexas em nada influi a minha opinião pessoal sobre o episódio Júdice.
Por partes, e para discussão, entendo que:
1. A Advocacia, como outras actividades, é uma prática heterogéna e - por isso - apta a uma estratificação clara e operada segundo critérios uniformes. Se o Estado pré-selecciona as instituições financeiras e consultoras que lhe podem prestar assessoria financeira em projectos de grande dimensão, não vejo por que não o possa fazer em relação a Advogados ou Sociedades de Advogados.
2. Os níveis de especialização exigidos na assessoria jurídica prestada em determinados sectores de actividade determinam a necessidade de recorrer - queira-se ou não - a um número mais ou menos limitado de opções.
3. É de gosto duvidoso, sobretudo quando se trata de um ex-bastonário, recorrer ao auto-elogio para reforçar uma ideia que, em si mesma, poderia sustentar-se com outra credibilidade.
4. É tecnicamente inadequado, deontologicamente duvidoso e mediaticamente insensato limitar temporalmente a defesa do arguido, sobretudo com um timelimit inferior ao beneficiado pela "acusação" e deixá-lo - ultrapassado o tempo - literalmente a falar sózinho. Tanto quanto me apercebi - com as minhas limitações técnicas - o processo disciplinar não é um concurso televisivo, não é arredio aos princípios mais elementares de justeza e isonomia processual, não é um exercício ilimitado do poder de direcção do processo.
5. Aos Bastonários, o actual que tudo parece tolerar, o anterior que tudo aparenta por em causa, terá faltado a sensatez de terminar a escalada - mediática e processual - do caso Júdice. Espero que o bom senso acabe por sobrevir.
É que a Ordem não é um "reality show", nem deve ser - pelo menos apenas - uma feira de vaidades. Até porque - diz-se - "A vaidade é o espelho dos tolos".

3 Comments:

  • At 9:27 da tarde, Blogger pumba no piu piu said…

    Ajudem os passarinhos vermelhos a escolher um nome para a nova capoeira do Seixal! Deixem as vossas sugestoes!

    http://passarinhos-fritos.blogspot.com

    os passarinhos decerto precisam...

     
  • At 6:28 da tarde, Blogger Paulo Martins said…

    Concordo que o exercício da advocacia deve priviligiar a especialização. Aliás, foi o tema da minha prova de agregação na Ordem dos Advogados. O título (irónico) do meu trabalho era "Advogado para todo o serviço". O ilustre Serra Lopes no júri de avaliação dessa prova vira-se para mim e dispara: "Isso da especialização não é algo parecido com o algodão doce?" Eu expliquei-lhe, com muito jeitinho, pois queira passar, que não. Quatro anos depois o Júdice implementou o regulamento da especialização na advocacia.

    Quem é este pumba no piu piu. Isto é um blog familiar de 4/5 pouco regulares participantes.

     
  • At 8:54 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Não sei quem é o pumba no piu piu mas - valha-nos isso - não é lampião.

    Quanto ao mais, só me ocorre perguntar quantos PPP's ou PFI's são regularmente confiados, pelo Estado, a um qualquer escritório tradicional, com três Colegas a partilharem custos e não Sociedade... A partir daí, e porque a resposta é óbvia, limito-me a perguntar: afinal, quem tramou o Júdice?

    Como no caso de Roger, o Coelho obcecado por Jessica, aqui parece ter sido o Juiz... O mesmo que não ouviu a sua defesa porque tinha de corresponder a 1/6 da acusação...

    De resto, parece-me evidente que - independentemente do bastonário que actualmente ocupa a cátedra - a Ordem deveria ser renovada. Caras novas, sem passado na OA, gente nova, sem confiar unicamente no número de cédula.

    Já agora, um pouco mais de densidade e carisma não fazia nada mal... Aos actuais dirigentes como aos já putativos candidatos.

     

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