Tertúlia Liberal

Pretende-se REFLECTIR o mundo e a sociedade, com uma nota crítica mas sem pessimismos.

domingo, fevereiro 24, 2008


Adiós Castro, Bienvenido Castro
Ficou hoje decidido que o irmão Raul sucederá a Fidel. Não é propriamente uma surpresa, pois desde Agosto de 2006, altura da doença do líder cubano, que tal sucedia.
Devo confessar-vos que admiro pessoas com convicções, que não mudam de opinião consoante as modas. Foi com este espírito que visitei Cuba.
Devo dizer-vos que fiquei desiludido.
Estive em Cuba em condições únicas, pois em vez de estar num luxuoso resort, optei por estar em casa de cubanos. As minhas percepções resultam assim do que ouvi, do que falei e do que li.
Cheguei à triste conclusão que se o povo votasse livremente teria um regime diferente do actualmente existente.
Devo confessar que foi complicado, conviver com a realidade de um povo, que não pode ser proprietário de nada (casas, carros, etc). Por outro lado o salário é igual para quem seja bom ou mau profissional, ou seja miserável.
Os desportistas, músicos ou os cubanos que vivem do turismo têm um nível satisfatório para a realidade cubana. Conheci um dentista e professor universitário que ganhava mais em arrendar por uma noite os quartos de sua casa que o salário de um ano da sua profissão.
Não têm liberdade de expressão, não têm liberdade de circulação não têm propriedade pessoal. Afinal o que tem este povo?
Têm um nível cultural extraordinário. São pessoas extremamente interessantes e com as quais se pode manter uma conversa sobre diversos temas.
Esta constatação, ainda me causou mais impressão, pois se fosse uma população de "grunhos", confesso que pouco me importaria com o seu destino. Assim, confesso que me preocupo.
Com Raul, como será?

8 Comments:

  • At 9:10 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Tiroliro,

    Estava a pensar postar sobre o tema, mas noutra perspectiva: juntamente com a Coreia do Norte, parece que temos a segunda monarquia não electiva de entre os (supostamente democráticos) países autocráticos da esfera comunista...

    Tenho muita curiosidade para ouvir e ler as reacções dos campeões da democracia e arautos da moral que são as muitas araras esquerdistas que por aí andam...

     
  • At 11:03 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Tiroliro,

    Excelente post!

    Cuba é o exemplo vivo dos malefícios do Comunismo. Mais exemplos existem, desde logo na casa mãe do Comunismo, Moscovo, que também tive a sorte de visitar há uns anos, apesar de, com pena minha, já pós queda do muro de Berlim. É bom lembrar que o regime de Fidel foi resistindo às fortes ofensivas norte-americanas com o forte e importante apoio soviético.

    Recomendo a todos a leitura do excelente livro de Zita Seabra que relata como ninguém o fenómeno do Comunismo em Portugal. Simplesmente brilhante!

    Respondendo à tua pergunta: enquanto Fidel estiver vivo nada mudará de certeza, depois da sua morte, tenho dúvidas que algo mude ...

     
  • At 9:55 da manhã, Blogger Miga said…

    Faço minhas as palavras do Paulo quanto ao post.

    Como era esperado não houve novidades neste processo de "sucessão" (concordo com o NMB, é de facto, muito ao estilo da monarquia). Como bem referes, Tiroliro, a situação já era provisória desde Agosto de 2006, agora não foi mais do que oficializar.

    Muito interessante o teu testemunho sobre a viagem que fizeste a Cuba, e tudo o que pudeste constatar do quotidiano do povo cubano, em detrimento do luxo de um Resort. Excelente, amigo!

     
  • At 1:46 da tarde, Blogger tiroliro007 said…

    Obrigado meus caros,
    Foi uma viagem extremamente marcante, na qual constatei que as opções políticas de um líder se sobrepunham claramente aos anseios de um povo.
    A sobrevivência do regime faz-se através de corpos militares e policiais presentes em todo o lado.
    A segurança do turista é garantida, mas incrivelmente o cubano é um cidadão de segunda. Não pode ficar em hotéis, tem moeda própria (pesos cubanos) e quando se aproxima do turista é abordado por um polícia que lhe exige a documentação.
    Querem sair do país, mas não os deixam.
    Querem dizer mal do regime, mas não podem.
    Querem o funcionamento das regras de mercado, mas o socialismo é um dogma.
    Querem progredir na carreira, mas infelizmente são tratados todos de forma igual.
    Próxima paragem: Coreia do Norte.

     
  • At 5:14 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    "pudeste constatar do quotidiano do povo cubano, em detrimento do luxo de um Resort. Excelente"

     
  • At 7:00 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Já estive em Cuba por 2 vezes com intervalo de 7 anos. Fiquei sempre em resorts. Se há 7 anos "conheci" a vivência cubana pelo que o guia nos disse ou "deixava cair", o ano passado falei com muitos cubanos, os afortunados porque trabalhavam no resort. E bastante cultos como a grande maioria. Por coincidência uma das minha leituras de praia foi o livro da Zita. Ao verem o emblema do PC na capa foram eles que meteram conversa. E ao falar com aqueles homens, principalmente os nadadores-salvadores os meus amigos e eu apreendemos a lição de vida que nos passavam. Esperançados num futuro melhor e a curto prazo pareciam-nos também um pouco resignados. Recebiam os nossos "CUC's" para turistas com satisfação porque lhes "dariam" bens inacessiveis aos "CUC´s" para cubanos. Tudo para eles é diferente. Até a praia. Qualquer cubano que trabalhe num hotel não pode ir à praia perto desse hotel. E a que lhes está reservada é muito pior que Algés há pouco tempo. Para entrarem num autocarro têm de mostrar o passaporte (para além do bilhete). Mas a maior lição de vida foi dada pelo empregado do bar da praia que todos os dias servia as bebidas a cantar e dançar. Até ao dia que se despediu de nós porque tinha tido autorização para ir a Havana ver a mulher e o filho de 5 anos que não via há um ano porque o filho estava em tratamento oncológico em havana. E só podia/tinha dinheiro para falar ao telefone de vez em quando.

    Com as diversas pessoas que falei na altura tinham esperança que o sucessor de Fidel fosse o Carlos Laje bastante mais novo e menos ortodoxo.

    Mas, Paulo, o livro da Zita é mais marcante no que se passou na URSS. E para mim continua dificil de apreender como conseguiram ser feitas as reconstruções fieis ao que eram e em poucos anos. Só com regimes de disciplina ferrea.

    Mas, enquanto em Cuba há uma certa alegria nas ruas na Russia sente-se um clima bastante pesado.

     
  • At 8:15 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    MAB,

    O clima e, sobretudo, o enquadramento cultural, explicam essa diferença.

    A razão fundamental já vem de longe: "mais vale entregar uma coisa à guarda de uma pessoa, que dela cuide e frutifique, do que deixá-la à incúria de todas."

     
  • At 4:33 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Tiroliro,

    Disfarçado na Tertúlia, deparei contigo e decidi ler os teus desabafos e opiniões. Não costumo perder tempo com blogs, mas parei para ler este post cuja curiosidade me despertou.

    Fiquei estupefacto pela forma como decidiste desfrutar estas tuas férias em Cuba, preferindo a estadia e convivência directa com o povo cubano em prol dos resorts de turismo que tendem em esconder a realidade dos países. Infelizmente a grande maioria dos turistas tendem em desfrutar as suas férias noutros países, mas não conhecem (nem querem conhecer) a realidade dos mesmos, pois são incapazes de lidar e enfrentar as dificuldades dos outros... para quê? ...isto pode estragar umas férias!

    Quanto ao futuro de Cuba, de uma coisa estou convicto: com Raúl será a manutenção do Holocastro!

     

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