Tertúlia Liberal

Pretende-se REFLECTIR o mundo e a sociedade, com uma nota crítica mas sem pessimismos.

quarta-feira, novembro 29, 2006

A visita do Papa à Turquia
Como nota prévia, não morro de amores por este Papa, que representava a ala ultra conservadora que aconselhava o Papa João Paulo II. Devo dizer que não o aprecio, antes de mais por me considerar católico, e entender que como líder espiritual poderá ser prejudicial para uma religião que se encontra em declínio.
Posto isto, devo-vos dizer que também não gostei da campanha orquestrada pela comunicação social contra o que o Papa disse sobre o Islão numa aula de teologia. As suas palavras foram retiradas do contexto e foram-lhe atribuídas expressões que não disse. Maldita comunicação social que apenas gosta de sangue e foge do rigor que a deve nortear.
Eu tive a oportunidade de ler o que o Papa disse. Não li tudo, pois recebi o texto em inglês e não tive paciência para ser sincero. Retiro do texto, no entanto, que o Papa foi pouco prudente, pois já não é um mero Professor e tudo o que diga tem repercussões que não podem ser ignoradas. O Papa foi ainda buscar exemplos de radicalismo a uma outra fé, quando as podia ter ido buscar ao período negro do catolicismo, representado pela inquisição. Se quer maus exemplos de intolerância, violência e de estupidez, os mesmos existem na sua religião.
A visita à Turquia começou ontem. Espero sinceramente que nada de mal aconteça ao Papa. Gostaria neste escrito ainda de louvar as palavras de alguém, que é muito visado pela comunicação social ocidental – o líder do Irão. Pois é, meus amigos, este Senhor veio, no auge dos ataques a freiras e igrejas católicas, defender que o Papa não quis atacar o Islão e pedir para que os ataques acabassem.
Que Alá proteja o Papa.

18 Comments:

  • At 3:15 da tarde, Blogger Paulo Martins said…

    Não sou católico. Por isso, tenho alguma dificuldade em entender estas visitas papais numa vertente religiosa.

    Entendo-as antes numa perspectiva política. O Papa, não tenho dúvidas, é um dos principais players políticos da actualidade.
    Se servir para acelerar o processo de entrada da Turquia na UE é sem dúvida uma visita muito produtiva.

     
  • At 5:06 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    1. Sou católico e, também eu, não posso concordar com a frieza e conservadorismo dogmático (ainda que devidamente alicerçado num profundo conhecimento da Fé) deste Papa.
    1.1. O Papa não tem idade, nem desempenha um cargo que lhe permita ingenuidades. Desse ponto de vista, os exemplos da referida comunicação foram desastrosos.

    2. No mais, qualquer visita à Turquia seria sempre acompanhada destas mostras de radicalismo. Os turcos só foram Europeus por umas dezenas de anos, com Ataturk. No mais, nem nas Ordenações figuravam como nação da Europa "cristã e civilizada".
    2.1. Não acompanho os raciocínios simplistas segundo os quais devemos alargar a oriente para estancar a progressão do terrorismo.
    a) Culturalmente não têm proximidade suficiente com os Estados-membros.
    b) Economicamente ainda estão num estádio primitivo de economia de mercado (ver Foreign Policy de Julho).
    c) Socialmente... Bem, digamos que quando o PM turco era uma PM turca, o livro mais lido na Turquia era o "Livro das Mulheres"; o tal que segundo o DN ensinava como lhes bater sem deixar (muitas) marcas.

    3. Ainda assim, creio ser importante que alguém, porventura o Papa, negue ceder às ameaças de radicais islâmicos, com a progressão social já verificada no sec. XIV da nossa era.
    3.1. Convenhamos que Portugal pouco progride, mas estes Senhores abusam.

     
  • At 5:49 da tarde, Blogger Apre said…

    Concordo contigo amigo, podia ter ido buscar ao período negro do catolicismo, representado pela inquisição, mas demonstra que mesmo sendo vitima da comunicação social e da sua falta de tacto, muita coragem nesta viagem.

    Tb concordo com os comentários ser Papa representa muito mediatismo, 'e o Papa não tem idade, nem desempenha um cargo que lhe permita ingenuidades'.

     
  • At 7:16 da tarde, Blogger Zepa said…

    Não sou católico, não por culpa dos ensinamentos, mas por culpa das pessoas que se dizem católicas. Perdoem-me se generalizo, mas é um assunto que me incomoda. Incomodam-me as pessoas que descriminam os que não são católicos; ou apenas que descriminam, ponto. Apesar de se dizerem católicos.
    Se ser católico é praticar os ensinamentos da Bíblia (passe o facto de o contexto sócio-cultural da sociedade ter evoluído muito desde a autoria dos seus textos), então ser católico mais não é do que ser inteligente; inteligente o suficiente para praticar o bem, a entreajuda, a piedade.
    Em relação ao Papa: gostava mais do anterior, talvez por me parecer "um velhinho mais simpático". Não sei que ala representa, por isso não me pronuncio em termos religiosos.
    Julgo que estas visitas, porque essencialmente políticas, não deveriam ser feitas.
    Penso que uma visita do Papa deve servir essencialmente aos fiéis, que assim podem contactar e ouvir ao vivo, o seu líder espiritual. Não faço ideia se na Turquia existem muitos fiéis católicos, mas parece-me, pela celeuma causada, que não haverá. Pelo que a visita do Papa à Turquia pecará talvez por inútil, do ponto de vista religioso.

    Para finalizar, louvo o facto de ter sido a primeira vez que ouço um católico dizer aquilo que eu sempre pensei desde o episódio que tanta polémica causou: se o Papa procurava um exemplo para ilustrar o que dizia, nada melhor do que ter mencionado a Inquisição.
    Julgo, pelo pouco que li e vi, que o Papa não se referiu a nenhum episódio nem nenhuma religião em concreto; apenas houve quem "enfiasse o barrete".

     
  • At 7:23 da tarde, Blogger Zepa said…

    Perdoem-me, mas tenho que acrescentar que:
    1-Não tenho nenhuma religião (não é a católica especificamente);
    2-Não sou religioso porque sou um homem de factos, razão e provas.

     
  • At 10:48 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    A questão foi muito bem colocada por Paulo Martins.
    A visita do Papa à Turquia apenas vem relançar a entrada deste país na União Europeia.
    Neste particular, as opiniões aventadas por NMB vêm de encontro àquilo que eu entendo ser uma integração muito difícil, a todos os níveis.

    "Pinguim dos Trópicos"

     
  • At 12:08 da manhã, Blogger Paulo Martins said…

    1) A Turquia é um local estratégico de um ponto de vista político, económico e militar. Percebê-lo é muito fácil, liga a Europa à Ásia (ao Médio Oriente). É uma questão base de geopolítica. A Turquia contra a Europa é o pior que poderia acontecer à UE, aqui,não tenho dúvidas, os EUA actuariam de forma muito pragmática.

    2) A Turquia não pode (não deve) ser comparada a países como o Irão, Iraque (...):
    (i) o Estado, a admnistração pública, o exército, etc. são laicos;
    (ii) a Constituição turca prevê a liberdade religiosa, liberdade de expressão, direito de voto para as mulheres;
    (iii) a igreja ortodoxa tem uma forte implantação na Turquia;
    etc.

    3) Basta olhar para a História de Istambul, por onde passou o Império Romano (conhecida por Constantinopla), a Civilização Grega (conhecida por Bizâncio), para percebermos que as raízes não são assim tão distantes como parecem à primeira vista.

    4) Finalmente, o estudo comparativo que o NMB faz é muito interessante, mas podiam-se fazer tantas comparações entre estados membros da UE (e dos que vão entrar também) e concluirem-se tantas diferenças ...

     
  • At 12:20 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Sou católico e sigo com muito interesse todas as notícias relacionadas com o Papa e com a Igreja. Daí que comece por dar os parabéns pelo post.

    Como já foi escrito aqui, penso que o facto do Papa (figura máxima da Igreja Católica) ir visitar um país, em que 99% da população é muçulmana, é um acto de grande coragem. Ainda para mais, depois de toda a polémica em torno das suas palavras na tal aula na
    Alemanha, ir "enfrentar" este país, com o intuito de criar um entendimento entre religiões (nomeadamente a católica e a muçulmana) é um grande sinal de Esperança para o Mundo. Não acredito, por isso, que se trate simplesmente de uma visita política. Concordo com o título da reportagem da Visão sobre a visita: "A Cruzada de Bento XVI".

    Espero que a Paz saia vitoriosa e que o Papa, através das suas palavras de Fé, consiga diminuir bastante a "ira" com que milhares de turcos o receberam.

    P.S.: Zepa, apesar de concordar com algumas coisas que disse, penso que o escreve no ponto 2 é demasiado restritivo do que é ser ou não religioso. Ou será que os muitos milhões de religiosos vivem todos no mundo da fantasia e da mentira?

     
  • At 9:28 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Paulo,

    1. As diferença entre a Europa e a Turquia vão muito além da religiosa.
    1.1. Objectivamente, se a Turquia que referes é a de base eslava (e ortodoxa), essa Turquia já desapareceu.
    1.2. A Turquia tem tanto de laico como Portugal de estado social de direito: uns arremedos que escondem o essencial.

    2. E o essencial é que a Turquia é moderada, mas tem uma crescente implantação islâmica... O que não invalida práticas bilaterais de cooperação em vez da simples (e simplista) adesão à UE.
    2.1. Sendo que, a meu ver, o Papa nada tem que ver com a política externa dos 25... Ou não deveria...

     
  • At 10:21 da manhã, Blogger tiroliro007 said…

    Meus amigos
    Vejo que criei algum celeuma com o post o que é de salutar. Obrigado pelas tuas palavras miga.
    Quanto às implicações políticas, bem exploradas pelo Paulo e pelo NMB, eu não vejo as coisas numa perspectiva utilitária e de interesse (ontem na quadratura os 3 "marretas" eram a favor) e portanto não consigo aceitar a entrada da Turquia na UE. Não sou político mas apenas um cidadão europeu.
    As rãzões já as apontou o NMB. Não as vou repetir.
    Já me identifico pouco com esta Europa, com a entrada de alguns dos últimos 10 países. Com a Turquia, mais valia tornar-me americano.

     
  • At 11:14 da manhã, Blogger Paulo Martins said…

    Não vi a quadratura do círculo, mas fico contente por saber que 2 pessoas que tenho em muito boa conta intelectual Pacheco Pereira e Lobo Xavier partilhem da minha opinião.

    Deixemo-nos de hipocrisias, a tua frase NMB diz tudo: “A Turquia tem tanto de laico como Portugal de estado social de direito: uns arremedos que escondem o essencial.” Então Portugal não deve estar na União Europeia ? Sabes os números de maus tratos de mulheres e de crianças em Portugal ? Sabes os números de abusos de crianças na UE ? É mais seguro sair à noite em Paris ou em Istambul ? Sabes as atrocidades que se cometiam ainda há não muito tempo por Ceasescu na Roménia, país que tem entrada garantida na UE ? Há tantos exemplos para dar sobre os países “civilizados” da UE …

    Deixemo-nos de mitos e preconceitos religiosos que vêm desde as cruzadas e que no teu 1º e-mail estão bem patentes “No mais, nem nas Ordenações figuravam como nação da Europa "cristã e civilizada". Na altura das Ordenações, em virtude do papel nefasto da Igreja, cristão e civilizado, infelizmente, eram a mesma coisa. Quem não era cristão não era civilizado.

    Finalmente, o que tem um Sueco a ver com um Grego ? Um Espanhol com um Lituano ? Um Cipriota com um Dinamarquês ? A EU não é (nem tem que ser) um união religiosa, cultural e social. A EU é neste momento (e bem) uma União Eco-nómica.

     
  • At 3:18 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Paulo,

    Por muito que argumentes não foges ao essencial: o lastro cultural comum a um finlandês e um grego é claramente mais favorável ao ratio que tentes fazer entre qualquer país da UE e a Turquia. A questão não é religiosa, é cultural.

    No mais, e porque o recente alargamento já foi um sinal disso mesmo, não me admiro em nada com a adesão da Turquia: pretende-se mercado, e a coesão que se lixe.

    Quanto aos argumentos estatísticos, qual Bloco de Esquerda a falar do aborto(embrulha!) não os discuto nem considero. São-me irrelevantes. Até porque não estou a discutir passado, mas sim o actual estádio de desenvolvimento da Turquia.

     
  • At 4:15 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Começo por agradecer o convite para visitar a Tertúlia Liberal. Li o seu texto e aqui fica o meu comentário, que de um modo geral está de acordo com o seu ponto de vista. O Papa (o representante do Deus Católico) tem, na minha modesta opinião, que ser menos intelectual e mais pastoral. Como intelectual que é, o Papa já percebeu isso? Concerteza. Senão, perdeu-se um Papado!

     
  • At 5:41 da tarde, Blogger Paulo Martins said…

    Essa do "Bloco de Esquerda" foi muito baixa. Julgava que o insulto gratuito não era permitido neste blog.

    Muito rápido: se a questão é cultural, repito, a UE não é uma união (recreativa) cultural é uma união económica em disputa com EUA, China, ... .

     
  • At 5:49 da tarde, Blogger Paulo Martins said…

    É típico dos comunas não perceberam a globalização e a crescente competitividade da economia mundial ...

     
  • At 7:07 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    iihhhhhhhhhhhhhhh!
    LAMPIÃO! (esta sim, foi forte! - Desculpa, Miga...)

     
  • At 9:52 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Eu só tenho a dizer uma coisa: gosto muito de um banho turco.
    E de toalhas turcas também.

    "Pinguim dos Trópicos"

     
  • At 5:42 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    E uma das músicas do Rod Stewart (meu idolo de adolescência), de que mais gosto, chama-se "Young Turks"...!!

     

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