Tertúlia Liberal

Pretende-se REFLECTIR o mundo e a sociedade, com uma nota crítica mas sem pessimismos.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Porque voto NÃO no referendo de despenalização do aborto

Peço-vos desde já desculpa pela extensão do post, mas o tema merece alguma profundidade. Prometo argumentar numa base puramente racional, manifestando exactamente aquilo que penso sobre a questão, não pretendendo radicalizar posições, nem entrar em discussões estéreis.
1) A questão colocada a referendo resume-se a um conflito de direitos, entre o direito à vida do embrião e o direito da mãe de auto-determinar o “destino” a dar à sua gravidez. Devemos questionarmo-nos qual destes direitos deve ser considerado superior e por isso merecedor de tutela jurídica em detrimento do outro. Não é mais do que sucede noutras situações e na qual o Estado deve dar resposta. A função legislativa do Estado compreende a tomada de decisões sobre factos que podem ser tipificados como crime, como meros ilícitos não tipificados como crime ou simplesmente como factos não puníveis.

2) O direito à vida do embrião deve prevalecer. A mãe (e o pai também, falo unicamente na mãe, porque a pergunta do referendo exclui erradamente o pai do processo de decisão) deve ser responsável pelos seus actos, não estamos a falar de violação, já legalmente admitida como excepção. Pelo contrário o embrião, como alguém já referiu é o elo mais fraco e indefeso em todo o processo de criação da vida humana. Discute-se muito a partir de que momento é que há vida. É irrelevante a meu ver, o mero decurso do tempo faz do feto um ser humano, assim julgo irrelevante e estéreis as discussões das 5, 10 ou 20 semanas.

3) Devem ou não as mulheres que abortam fora das actuais exclusões previstas na lei serem punidas? Um dos argumentos do sim prende-se com a prisão das mulheres que abortam. Devo dizer que se os defensores do sim não apreciam as acusações que os apelidam de não serem defensores da vida, os defensores do não também não gostam particularmente de ver mulheres presas. Desculpem-me a simplificação, mas a prisão das mulheres que abortam decorre do facto ilícito que praticam, tal como a do automobilista que atropela inadvertidamente uma criança numa passadeira. Não se descriminaliza um facto porque o seu autor depois vai ser penalizado.

4) A insuficiência económica também não pode ser critério para resolver a questão, caso contrário despenalizar-se-ia o aborto até ao nascimento de pais com comprovada insuficiência económica. Há exemplos suficientes de grandes homens e mulheres que nasceram em ambientes adversos para não resolvermos a questão desta forma tão simplista.
5) Os defensores do sim, e a própria questão objecto do referendo, excluem o pai da discussão. Deve a mãe ser a única a tomar tal decisão ? E se o pai não concordar com o aborto decidido exclusivamente pela mulher ?

6) A sociedade actual é a da informação e globalização. Aqui perdoem-me mas muito poucas situações ocorrem por azar. Quem toma a decisão de abortar sabe pelo menos o que é um preservativo ou uma pílula (de dia seguinte ou não). E caso não saiba, cabe ao Estado promover e divulgar o planeamento familiar.

7) A questão do aborto não é uma questão partidária, nem tão pouco uma questão religiosa. Se é uma questão de consciência individual, como os defensores do sim defendem, porquê a campanha do PS e do BE a favor do sim ?
8) Por último, a questão do aborto nada tem a ver com a da pena de morte. Há quem defenda que quem é a favor da pena de morte tem que ser a favor da despenalização do aborto. Fazer esta comparação é colocar no mesmo plano um assassino (autor de crimes tenebrosos …) e um feto.

E isto em termos resumidos é o que eu tenho a dizer …

26 Comments:

  • At 11:01 da tarde, Blogger Miga said…

    Amigo Paulo, começo por dizer que não notei nada que o post fosse extenso, de tão claro e bem estruturado que está. Muito bom.

    Sou também contra a despenalização do aborto. Votarei NÃO.

    Estou de acordo com praticamente tudo o que escreveste.

    Como referes, hoje em dia já há muita informação sobre sexualidade, métodos anti-concepcionais (naturais ou não), etc. Daí que os "descuidos" ou "azares" já não façam sentido. A pergunta pretende dar uma oportunidade às mulheres de utilizarem um método pós-concepcional, livremente. Se se esqueceram, não se precaveram ou, pura e simplesmente, não se interessaram em prevenir uma gravidez, então podem agora fazê-lo, dando cabo da mesma. E isto é horrível. Dar cabo de um embrião/ser humano/vida humana só porque não houve o devido acautelamento prévio, ou porque não vem a calhar, ou até, porque apetece.

    Penso que a questão das semanas tem relevância. Porquê até às 10 semanas? Porque não 15 ou 20? 10 semanas representa 1/4 da gestação. Não é significativo (25% do tempo)? Para além disso às 10 semanas o coração já se vê e ouve em ecografia há, pelo menos 4. As estruturas estão quase todas formadas.

    Finalmente, apesar de não ser essencial ou decisivo para a orientação do voto, penso que a questão religiosa tem muita importância. Quanto a mim, é (ou deve ser) indissociável ser-se católico e votar NÃO. Agora é verdade que, religiosos ou não, devemos defender a vida desde a concepção.

     
  • At 9:38 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Caros,

    1. Voto "não" por convicção, também (mas não sobretudo) - confesso - religiosa.

    2. Reduzo o "não" a um fundamento e a um argumento.
    2.1. Fundamento: não porque há vida desde a concepção.
    2.2. Argumento: não porque não é sério tratar os insucessos políticos, em questões de planeamento familiar por exemplo, com a simples abolição das causas.

    3. É um facto negativo, que deixa marcas, que causa problemas (será o homem um mero dador de esperma, como a pretendida lei parece consentir?), e que deve ser negativamente valorado pelo ordenamento jurídico.

    4. Segue-se o quê? A abolição do tipo criminal "homicídio" com base no argumento que assim são feitos de forma esconsa e pouco asseada? Ou de que a maioria dos meliantes são vítimas da sociedade e que, por isso, não devem ser penalizados?

    5. Sejamos sérios: ninguém pretende colocar uma Mulher atrás das grades por ter abortado. Eu não pretendo, seguramente, que o aborto seja encarado com leviandade (solução normal para uma incúria) que não merece qualquer tutela pelo ordenamento jurídico.
    5.1. Tenho vergonha de um país que cai 10 lugares no ranking de desenvolvimento da UE e, ainda assim, perde tempo a criar falsos problemas.

    6. Para mais informações sobre o "Não" recomendo o "blogue do não". Muito mais enciclopédico na argumentação do que o carrancudo e indiferenciado Louçã quando elenca demagogias de sentido inverso.

     
  • At 3:20 da tarde, Blogger Paulo Martins said…

    Quando menciono que a questão das semanas é irrelevante é no sentido de defender que há vida desde a concepção. E mesmo para aqueles que entendem o contrário (ex: os mais radicais, só com o nascimento) é preciso que percebam que o "mero decurso do tempo" faz do feto o ser humano, não estamos a falar de realidades distintas.

    E o que me dizem do 2º cartaz do "Não Obrigada" (qualquer coisa deste género: contribuir com os meus impostos para clínicas de aborto?)? Julgo que é um erro gravíssimo da campanha do NÃO relacionar a questão do aborto com problemas de "dinheiros". Descredibiliza por completo a argumentação séria e racional que está do lado do NÃO.

     
  • At 4:18 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Erro crasso.

    "Contribuir com o dinheiro dos meus impostos para dá para..." tudo, até para a sempre popular causa das reformas dos políticos ou a não menos adequada referência às viaturas oficiais. E desvaloriza aquilo que é um discordância por bem de natureza diversa...

    Segundo ponto: viram a Dra Maria José Morgado, Procuradora Adjunta da República, a declarar ter conhecimento circunstanciado de factos que constituem crime sem ter declarado ter, como é seu dever funcional, procedido à notícia do crime?

     
  • At 7:19 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Paulo concordo genéricamente contigo, em relação à parte legal, não comento, pois para mim, que também vou votar não o factor principal esqueceste-te de referir, mas o tiroliro falou por ti em parte.

    O custo do referendo é escandaloso, mas valia pelo que custa que tivesse ganho o sim, há 9 anos. Mas se isso tivesse acontecido quantos abortos teria havido nos hospitais publicos financiados pelo orçamento de estado da Saude?

    Quanto vai custar um sim em termos de impostos?

    Será que 10 milhões de euros por ano chegam para o que o Estado comparticipará por cada aborto em hospital publico?

    Eu julgo que não, e vou votar não para que os meus impostos não aumentem, quem quer fazer abortos que os faça mas que os pague também, e leiam uns folhetos sobre planeamento familiar.

     
  • At 11:32 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Parece que sou o primeiro, neste blog, a admitir que vou votar sim. E voto sim por convicção. Convicção de que a realização da IVG não protege apenas os interesses da mãe, ao contrário do que é comummente argumentado pelos adeptos do não, mas também os interesses (futuros) da criança. Uma criança não desejada, uma criança não amada, nunca terá um futuro risonho.

    "Pinguim dos Trópicos"

     
  • At 11:39 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Apre,
    Foi essa a estratégia da plataforma "Não Obrigada" que eu discordei no meu anterior comentário.

    Pinguim,
    Estás pronto para aguentares esta batalha sozinho?

     
  • At 12:05 da manhã, Blogger tiroliro007 said…

    Pinguim não me surpreende que vote sim pelos comentários anteriores neste blog.
    Admiro a sua coragem e espero que esteja pronto para as balas. :)

     
  • At 12:08 da manhã, Blogger tiroliro007 said…

    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

     
  • At 10:38 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Pinguim,

    O argumento dos indesejados, também se aplica a idosos? E os doentes de Alzeihmer? E a ladrões, pederastas e assassinos?

    Só para saber se, considerando que isso justifica acabar com uma vida, eu devo comprar uma participação social na SERVILUSA...

    De resto, registo que utiliza eufemisticamente o termo IVG, para mais abreviado. É curioso que assim suceda quanto aos defensores do sim. Sempre é menos agressivo do que referir o que sempre foi: aborto.

    (argumentação demagógica, concedo, mas por isso não divergente dessa história do filho indesejado)

     
  • At 10:43 da manhã, Blogger Paulo Martins said…

    Concordo com o argumento económico, só não acho que seja o argumento decisivo para se votar não, ao ponto de se preferir que o sim tivesse ganho há 9 anos atrás.

    Caro Pinguim,
    Esse argumento é o do maior desprezo pelas capacidades do ser humano. Conforme referi no meu e-mail tenho amigos meus que crescerem em ambientes adversos e que hoje são pessoas felizes. Mais felizes que outras que supostamente nasceram em berços de ouro ... O teu argumento levado ao extremo equivale a dizer que a vida de crianças orfãs, adoptadas, etc. não tem sentido.

     
  • At 10:53 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Tiroliro,

    Achei fantástico que Paulo Portas pegasse hoje no assunto Maria José Morgado por onde pegou, isto é, pelo pior prisma.

    O que é extraordinário não é que uma Magistrada comparareça num evento promovido por um partido político a pretexto de análises técnicas ao Código.

    O que é extraordinário é que esta justificação seja publicamente apresentada sem que ninguém lhe lembre que (i) referiu ter conhecimento que se fazia aborto em território português dentro de clínicas cuja identidade era, pelos vistos, conhecida e (ii) enquanto Magistrada deve cumprir a lei vigente e, (iii) manda o decoro (e creio que a lei - não será um caso de denúncia obrigatória?) que dê conhecimento às autoridades de eventuais ilícitos criminais ocorridos em Portugal.

    Para mais da parte de quem se diz democrata cristão, foi uma triste intervenção de Paulo Portas.

     
  • At 11:17 da manhã, Blogger Paulo Martins said…

    E o que me dizem a esta notícia:

    "Os cristãos que vão votar 'sim' no referendo serão alvo de excomunhão automática, a mais pesada das censuras eclesiásticas", garante o cónego Tarcísio Alves, pároco há cinco anos em Castelo de Vide (Portalegre)."

    Fantástico não é ? Mais um tiro no pé para quem defende de forma séria o não. Até posso perceber em teoria a medida mas este tipo de chantagem mostra bem a outra face da nossa igreja.

     
  • At 5:48 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Zás! Sai uma mordaça para o pároco do canto!

     
  • At 9:39 da tarde, Blogger Miga said…

    Epá essa foi forte para com a Magistrada, Tiroliro...

    Caro Pinguim, aqui vai a minha ofensiva (utilizo esta expressão meia a brincar, mas não quero desviar-me da seriedade deste tema). O argumento de que se poderá estar a fazer bem ao bebé, protegendo-o da eventual falta de amor e atenção dos pais no futuro pode-se contradizer através de uma palavra: adopção. Adopção que pode passar primeiro por acolhimento em instituições que depois serem encaminhadas para famílias que lhes darão tudo o elas necessitam (valores, amor, carinho, educação).

    Penso que este é um ponto em que muita gente que apoia o Sim devia pensar: colocarem-se na "pele" daqueles casais que não conseguem ter filhos. Fazem tratamentos, esperam ano após ano para terem o seu filho/a e não conseguem. Como se sentirão eles, vendo outros a conseguirem gerá-los e não os quererem?

    Paulo,

    Em relação à tua citação não penso tratar-se de uma chantagem, mas de uma sensibilização (feita com termos duros, é certo). Por vezes têm que se pôr os pontos nos is. E nem todos têm a coragem de dizer frontalmente o que pensam. Nestes casos, como se costuma dizer, a quem servir a carapuça que a vista...

     
  • At 7:03 da tarde, Blogger tiroliro007 said…

    Caros amigos
    Antes de mais para dizer ao Pinguim que não o queria ofender com o meu comentário. Foi apenas uma constatação de um facto face ao que já defendeu em anteriores comentários. Aplaudo a sua coerência.
    Quanto à questão de fundo, também concordo linhas gerais com o post do Paulo.
    Tal como o miga também concordo que a questão das semanas tem relevância. Porquê fixar este limite quando existem elementos científicos que atestam existir vida antes das 10 semanas. Parece me um argumento a favor do não que deve ser utilizado.
    Outro facto relevante é realmente o termo utilizado - ivg em vez de aborto. Acham a palavra aborto tão má que a tiveram de mudar. Ainda para mais a magistrada do T. Constitucional(Dr.ª Fernanda Palma) que votou favoravelmente a pergunta apareceu a dar a cara pelo sim. Onde está a independência inerente a estes cargos? Nuno, em relação à Maria josé Morgado disseste tudo e acho incrível que tendo conhecimento de crimes nunca os tenha denunciado simplesmente porque vota sim.
    Finalmente a questão religiosa. Não me considerando um de Vós (Miga e Nuno) pois não sigo a cartilha come il faut concordo com o que diz o Miga e acho que quem adere a uma doutrina o tem de fazer por inteiro. Assim a reacção do padre poderá fazer sentido para o seu rebanho.
    Mais estranho é como apurar quem dos católicos votou sim. Vão fazer inquéritos, divulgar confissões, etc.
    Ou será uma pena que viverá com o católico até ao fim da sua vida, independentemente da revelação.

    Em suma votarei não, porque os argumentos são mais ponderosos que os do sim. Faço-o em consciência e ciente que é o melhor para todos.

     
  • At 12:26 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Parece que o meu pequeno e singelo comentário levantou várias questões. Assim, desta vez tive de vir artilhado...
    A questão que será colocada no referendo é a seguinte:
    «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?».

    Adopção:
    Antes de mais quero esclarecer que não sou a favor da IVG ou aborto (como perferirem) a todo o custo. Eu apenas quero deixar a decisão nas mãos das mulheres e não submetê-las a um processo vergonhoso.
    Também eu penso que a sociedade tem de construir as bases para que haja medidas de ajuda para uma contracepção capaz, para que haja apoio a todo o nível para as mães de gravidezes indesejadas, flexibilizar os mecanismos de adopção para o caso das mães que não querem, ou podem, educar a criança, entre muitas outras medidas.
    Agora, não podemos fechar os olhos à realidade que se encontra à nossa volta.

    Dinheiros Públicos:
    Por um lado, a realização de IVG’s junto do Serviço Nacional de Saúde é um facto que não me parece que tenha (ou devesse ter) alternativa. A despenalização do aborto não pode ser selectiva, pelo contrário deve ser permiido a todas as mulheres, quer tenham ou não dinheiro para o realizar.
    Por outro lado, chamo a atenção para o facto de os contribuintes suportarem inúmeros custos estatais que não aproveitam ou lhes interessam directamente. Lembro, inclusive, que os custos das investigações criminais e consequentes julgamentos das mulheres que abortam também são suportados pelos contribuintes. Mais, o próprio Serviço Nacional de saúde já suporta o custos de tratamento das mulheres que surgem nas urgências dos hospitais em consequência de aborto clandestino.

    Igreja:
    Muitos dos defensores do “Não” confudem a questão que irá ser levada a referendo com a sua própria ética/convicção religiosa. Assim, pretendem impor a sua “razão” a todos os demais.
    O problema de muitos dos defensores do “não” e em particular do exemplo que foi dado do cónego de Catelo de Vide é que se torna “surdo”às opiniões dos outros, defendendo que está ali uma vida e a vida não se discute.
    Penso que o voto "sim" pode garantir que as convicções de cada um sejam respeitadas.De facto, o “sim” não impõe a ninguém que vá abortar, mas deixa deixa a cada mulher o direito à decisão.

    Limite 10 semanas:
    Como esclarecimento inicial, gostaria de dizer que na grande maioria dos países europeus que admite a IVG o limite para o realizar é superior às 10 semanas.
    Quanto às razões da fixação do prazo, parece-me que a mulher tem de ter tempo para saber que está grávida, tomar a decisão de interromper ou não a gravidez e o fazer junto do Serviço Nacional de Saúde.

    Outras questões ficam, por certo, por contra-argumentar. Porém, já sei que estas vão fazer “detonar” (para quem é “favor” da vida o vosso vocabulário é muito coerente) alguns comentários.

    “Pinguim dos Trópicos”

     
  • At 7:11 da tarde, Blogger tiroliro007 said…

    Caro Pinguim
    Bem explanado o raciocínio ainda que não concorde. o argumento do exemplo europeu parece-me claramente falível se copiamos algo mau. Estou mesmo a ver a defesa do casamento dos homossexuais por ser também uma moda europeia.
    Quanto ao final nunca me afirmei a favor da vida até porque para mim os que votam sim não são a favor da morte.

     
  • At 9:58 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Pinguim,

    ADOPÇÃO. Vamos legalizar o tráfico de droga? Afinal de contas, não podemos fechar os olhos ao que se passa à nossa volta...

    Se a resposta é negativa, agradecia que explicasse a diferença entre os dois valores (vida intra-uterina vs economia)...

    DINHEIROS PÚBLICOS. Percebo o argumento: a permitir-se o aborto deve ser tutelado o acesso a todas as classes sociais. O acesso à saúde não é censitário. Mas permito-me corrigi-lo: aparentemente o Estado não gasta dinheiro na investigação criminal por prática de aborto clandestino. É por demais evidente que, como nos EUA durante a Lei Seca, a estrutura da Magistratura é, em Portugal, mais selectiva do que o Código Penal (e outra legislação não codificada) quanto ao que é ou não crime. Será isto o carácter fragmentário do direito penal?

    IGREJA: declarações deploráveis (pela intolerância) e inconvenientes (pelos efeitos; os padres devem - também - ter bom senso). Registo, contudo, que só fala em decisão da Mulher. Devo, portanto, deduzir que considera todos os homens como meros "dadores de esperma"?

    10 SEMANAS. A maioria dos países europeus tem políticas de natalidade próprias, populações mais esclarecidas, tradições sociais distintas. Alguns dos países têm pena de morte, já agora.

    Ah. E também têm gajas com melhores mamas...

     
  • At 12:57 da tarde, Blogger Paulo Martins said…

    Parabéns Pinguim,

    Resposta bem estruturada e com alguns (poucos) argumentos com algum sentido.

    O argumento de "não podemos fechar os olhos à nossa volta" aplica-se para qualquer tipo de crime.

    Noto que a questão essencial (como diria o Pacheco Pereira) não foi no entanto abordada (aliás nunca é abordada pelos defensores do sim): acha que o feto às 10 semanas não é merecedor de qualquer tutela jurídica, é um mero apêndice da mãe (e só da mãe, ainda por cima) e daí conclui que esse mesmo feto pode ser eliminado sem qualquer razão ponderosa (as já previstas na lei) e à distância de uma mera solicitação da mãe ? É isto não é ? A mãe porque grávida é a proprietária daquela coisa, como alguns chamam de bolinha de alguns milímetros, e então pode decidir o seu destino dessa mesma forma ? Gostava que explicasse a sua posição sobre esta, talvez a mais importante, questão.

     
  • At 4:05 da tarde, Blogger Miga said…

    Pinguim dos Trópicos,

    Não me vou alongar no comentário à sua posição.

    Quero apenas, "confrontá-lo" com uma afirmação inicial sua no ponto da Adopção: "Antes de mais quero esclarecer que não sou a favor da IVG ou aborto (como perferirem) a todo o custo." Se me permite, fazendo uma outra leitura do seu raciocínio, quererá dizer que é contra a despenalização da IVG, mas se a mulher o entender fazer tudo bem, ela é que sabe. Entendi bem? Acha mesmo que a mulher tem o direito o fazer só porque sim?(relembro que a lei actual já contempla excepções em que a mulher pode interromper a gravidez).

    Termino com uma afirmação que vem num folheto do movimento "Portugal pela Vida": "todos nós já tivémos 10 semanas...", nomeadamente as mulheres que agora, como disse, devem ter o poder de decidir se querem interromper a sua gravidez ou não.

     
  • At 7:33 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Eu vou votar SIM.
    Por uma questão social. Embora me pese a questão juridica (por defeito profissional), julgo que o argumento que alguém já referiu é realmente o mais válido: acredito que uma criança que nasça sem condições de ser criada, mas vale não nascer. E não falo de carências económicas, porque o Homem tem uma capacidade quase infinita de adaptação às adversidades. Falo sim de maus tratos (físicos, psicológicos) e um muito fraco desenvolvimento.
    Já alguém também disse que há grandes portugueses e portuguesas que nasceram em condições muito adversas. É claro que sim. No entanto tiveram que ter influências, apoio, talvez até carinho, de ALGUÉM; mesmo que não tenha sido nunca nenhum familiar.
    É fácil chegar a esta conclusão, se pensarmos na Alegoria da Caverna, e o que ela representa em termos cognitivos.
    Sou contra o aborto(ou IVG, porque agora chamam-se nomes floreados a tudo) como é concerteza toda a gente. Ninguém no seu perfeito juízo quer que um aborto seja efectuado.
    No entanto continua a ser, para mim, a solução menos má em face do que já disse anteriormente. Não para defender os pais (os dois) que não souberam precaver-se (embora os métodos existentes possam ser falíveis, essas falhas são marginais, estatisticamente), mas para defender as crianças.
    No entanto entristece-me que tenha que argumentar assim. Porque se os nossos sistemas de acompanhamento social, de adopção e outros que tais, fossem capazes, de certeza que não haveria necessidade de efectuar tantos (ou nenhuns) abortos. Porque se os pais dessas crianças que já não o vão ser, vão abdicar delas, então que abdicassem a favor de quem as pudesse e/ou quisesse criar (isto lembra-me um outro assunto da ordem do dia).
    Mas também acho (e quero assim acreditar) que o aborto não vai ser praticado de qualquer maneira e "porque sim". Porque uma situação destas deve ser acompanhada, aconselhada, averiguada, social e clinicamente.
    Quero ainda dizer que acho que se "as clínicas espanholas ficarem com esse negócio", isso dever-se-á a uma incapacidade de resposta dos nossos hospitais, na maioria dos casos (haverá também os casos de anonimato envergonhado, mas deverão ser em pequena percentagem).
    Irrita-me um bocado o argumento do "meu dinheiro dos impostos"! Porque isso serve para tudo, e para os dois “lados”: porque hei-de eu financiar os abortos a quem os quer fazer? e porque hei-de eu pagar os custos dos processos a julgar quem os praticou? é um verdadeiro pau de dois bicos.
    Só mais uma coisa porque isto já vai longo: acho que o referendo é uma forma de desresponsabilização do Estado. Porque o Estado(Governo??) é que deve ter a coragem para alterar ou não a lei, e não colocar esse peso nos ombros do cidadão.
    Para terminar quero dizer que tenho dois filhos e que não pretendo ter mais. No entanto, se acontecer um daqueles desvios estatísticos, cá estarei para o criar. Com dificuldade, mas cá estarei. (e isto não é um contra-senso; voto sim porque, como em muitas outras coisas, temos que proteger a sociedade dela própria).

     
  • At 11:42 da tarde, Blogger Miga said…

    Zepa, li com atenção o seu comentário. Respeito, embora não concorde como já viu certamente nos meus comentários.

    Reparo que a grande base da sua argumentação vai no seguimento da utilizada pelo Pinguim: o ambiente hipoteticamente adverso onde a criança poderá nascer. Sem dúvida, que temos ouvido alguns casos perfeitamente horriveis de maus tratos a crianças, e até mesmo algumas que não resitem e acabam por morrer. Lembro-me particularmente daquela menina de oito anos, chamada Joana, do Algarve que morreu vitima da própria mãe e tio. No entanto, não podemos, na minha opinião, utilizar que esses crimes (bárbaros) para dizer que a despenalização irá acabar com este lado negro da nossa sociedade.

    Penso que a vida deve ser sempre respeitada. Seja no ventre materno, seja em sociedade uns com os outros. E às 10 semanas, como sabe já há muita vida.

     
  • At 9:46 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Zepa,

    A base da sua argumentação é, salvo o devido respeito, facilitadora.

    Se o Estado é mal sucedido nas suas funções fundamentais deve reformar-se para que possa servir os cidadãos condignamente, e não demitir-se daquelas.

    O sistema nacional de saúde é, também, uma lástima: propõe a sua abolição? E a segurança social? O papel das Forças Armadas tem-se detriorado...

    Não creio que a pretexto de falsos (a adjectivação não é para si) humanismos se deva tolher vidas humanas.

    Não creio - também - que a pretexto de falsos (idem) argumentos seja lícito ao Estado demitir-se das suas funções.

     
  • At 12:23 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    NMB,

    Talvez não me tenha explicado bem quando refiro o Estado e, indirectamente, a Segurança Social.
    Não proponho a abolição nem de um nem de outro. Gostava, quando muito, de propor a sua reforma, de uma vez por todas.
    Tudo o que digo e disse, apenas quer dizer que:
    1 - Se o Estado tivesse coragem política, não estariamos todos preocupados com o referendo.
    Não é óbvio?
    Com isto quero dizer que acho errada a postura do Estado neste assunto, porque como diz, e muito bem, o Estado não pode demitir-se do seu dever, e eu acho que o fez nesta matéria.
    2 - Se tivessemos um sistema de segurança social capaz, não tinhamos este (nem outros) problemas. Isto quer dizer que ninguém sentiria a necessidade de abortar voluntariamente, pelos argumentos que já explanei anteriormente.
    Todos estamos ao corrente do que se passa com o Sargento Gomes. Julgo que é um bom exemplo de um comportamento que poderia modificar o estado das coisas
    no que diz respeito aos meus argumentos.
    Se estas adopções fossem legais (logicamente, devidamente acompanhadas pela TAL instituição capaz), teriamos muito menos casos de abortos voluntários. A "lista" para adopções é enorme e lenta...

     
  • At 1:00 da tarde, Blogger Paulo Martins said…

    Caro Zepa,

    Mas como não tivemos um Estado capaz, a pergunta que se coloca a referendo é:
    «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?».
    E a esta pergunta o caro Zepa responde SIM, certo ?

    A questão do aborto "sem razão" coloca-se em todos estratos sociais, em relação a famílias que dependem do Estado (Segurança Social) e em relação a famílias que dele não dependem.

     

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