Tertúlia Liberal

Pretende-se REFLECTIR o mundo e a sociedade, com uma nota crítica mas sem pessimismos.

sábado, dezembro 30, 2006


Saddam morto por enforcamento

Não resisti, perante a notícia deste sábado, acompanhada com imagens impressionantes da morte por enforcamento do ex-ditador iraquiano, a colocar este post (penso que será o último de 2006).

O facto (notícia) da condenação a 5 de Novembro não tinha sido comentada aqui no blog, mas achei que, agora que a condenação foi posta em prática, a devia lançar à discussão.

Todos sabemos, na generalidade, quem foi Saddam Hussein e o regime ditatorial que liderou durante décadas. Conhecemos também o crime que cometeu (pelo menos assim foi acusado) contra a humanidade, ao assassinar 148 xiitas. No entanto, todos nós, estou certo, em consonância com a posição de todos os países da UE, estamos contra o desfecho que hoje teve lugar (3h00, hora portuguesa, 6h00, em Bagdade). A pena de morte, seja ela qual for, é inconcebível (e, louve-se, o nosso país foi o primeiro a aboli-la na UE).

O papel dos americanos em todo este processo, desde a condenação à execução, é também conhecido, em traços gerais, por todos nós. Penso que, independentemente das "razões" que eles invocaram para esta decisão, esta execução teve um "gostinho especial" para os EUA e, nomedamente, para Bush. Para terminar, a pergunta fica no ar: para quando a abolição da pena de morte nos EUA? Bom... se calhar esta é mais real: será que algum dia vai ser abolida a pena de morte nos EUA?

12 Comments:

  • At 9:39 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Miga,

    Dois problemas: (i) a pena de morte e (ii) a (ausência de) política externa coerente dos EUA de Bush.

    Quanto ao primeiro problema, sincopadamente e apenas para colocar a tónica no debate: a pena de morte deve ser abolida.

    A abolição da pena de morte não se deve a uma opção politicamente correcta, a um especial humanismo, complexo esquerdista ou pieguece.

    É a pena de morte que, simplesmente, representa a desistência do Homem. E isso, meus caros, é valor de que não abdico (nem para árbitros lampiões...).

    Já quanto ao segundo problema, diria apenas que se os árabes não estavam todos unidos contra os EUA (ou contra o ocidente, por ora na versão americana), passaram a estar depois destas imagens.

    Que fazer agora na Jordânia e na Arábia Saudita - tradicionalmente mais receptivos ao Ocidente (leia-se USD) - quando se anda a causar a desgraça dos sunitas no país do lado?

    Que fazer quanto ao Irão quando se dá, cada dia que passa, mais almas de quem incumbe aos Ayatollahs cuidar?

    Lastimável!

     
  • At 10:51 da manhã, Blogger Paulo Martins said…

    Miga e NMB,

    Também eu fiquei chocado com as imagens de televisão. Qualquer pessoa bem formada fica consternada perante a imagem da morte. Agora, três comentários:

    (i) não esqueço o que esse senhor fez durante a sua vida;
    (ii) aqui desculpem desiludir-vos, admito a pena de morte em casos muito extremos em que o homem já mostrou por diversas vezes e de forma clara que não tem salvação possível. Qual a pena para um indíviduo que viola e assassina crianças ? 25 anos de prisão ?
    (iii) os EUA tiveram o mérito de derrubar um regime ditatorial e o demérito de não o saberem fazer como deve ser. Agora estão metidos num sarilho muito sério ...

     
  • At 12:31 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Paulo,

    Pelo critério referido em (i), metade dos líderes do médio Oriente eram colocados no Campo Pequeno para uma sessão de tiro ao alvo.

    Pela observação contida em (ii), apenas agradeço o facto de não ter de ser eu a tomar opções. Desde logo, que fazer com um qualquer violador, um serial killer, um tipo que propaga doença contagiosa com dolo, um terrorista, etc?

    Quanto ao (iii), espero que não tenhamos de pagar a imprudência do Senhor Bush.

     
  • At 2:51 da tarde, Blogger Paulo Martins said…

    NMB,

    Vejo que não estás tão certo quanto à questão "pena de morte".

    E não seriam bem condenados ?
    O nosso Código Penal gradua os vários tipos de crime consoante a sua gravidade, até 3 anos, até 10 anos, etc. Um serial killer, um violador de crianças, etc merece apanhar uns anos de prisão que com a habitual amnistia sai decorrida metade da pena e readquire a liberdade e reincide na prática do crime. Que efeito corrector têm as nossas prisões ? a maioria das vezes saem de lá pior do que quando entraram ...

     
  • At 2:54 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Corrige a causa em vez de suprimires o efeito da pior forma...

     
  • At 3:17 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    A Justiça, o castigo para o criminoso, não é, nem pode ser a morte! Caso contrário, o que diferencia o julgador e o carrasco do criminoso?

    A pena de morte é a demonstração do quanto o Homem pensa poder ter nas suas mãos um "poder" divino...

    Concedo que para crimes hediondos os limites mínimo e máximo da pena - como é o caso de Portugal - deveriam ser ampliados. Todavia, o respeito pela VIDA humana - que é inquestionável - deve ser observado, em primeiro lugar, pelos agentes da justiça e por todos os que se julgam (OS) defensores da Humanidade e da Democracia e que em seu nome acabam a cometer atrocidades.

    cnm

     
  • At 4:27 da tarde, Blogger Paulo Martins said…

    Caro NMB,

    Que utopia. Tu não acreditas nisso.

    Cara CNM,

    Respeito a tua opinião, mas há pessoas que, por mais que tente, não consigo qualificar como seres humanos.

     
  • At 7:38 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Paulo,

    Não é utopia, é rigor.

    (Qto ao teu comentário a CNM: não vais falar outra vez no Benfica, pois não?)

     
  • At 12:21 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Não pude durante o dia ir respondendo aos vossos comentários, pelo que só agora no final deste dia 2 (quase dia 3) o faço.

    Confesso que há uns anos pensava de outra forma sobre a pena de morte, nomeadamente nos exemplos já dados, em particular a pedofilia (abuso e, em certos casos, morte de crianças). Aliás, o meu pensamento imediato depois de ver ou ouvir uma notícia dessas é: "este monstro (para não dizer pior...) não merece viver". E concordo contigo Paulo, quem faz uma coisa dessas não é digno de ser considerado ser humano. E ainda com a agravante das penas serem curtíssimas (mesmo os 25 anos) para crimes tão graves e violentos.

    No entanto, sou contra, pois ao se aplicar a pena de morte, está-se a fazer a essa pessoa aquilo que nós não concordamos que ela tenha feito a outros. Para além de que, como disse a CNM, não deve ser um poder do Homem o de tirar a vida a outro. Sou pelo castigo severo de prisão para o resto da vida, obviamente sem mordomias nenhumas.

    Para terminar, deixo aqui novamente esta ideia que estava no post, mas que, se calhar, não especifiquei bem. É que, para além da questão "Pena de morte nos EUA", acho que há um sub-ponto que é "Pena de morte SOBRE o Saddam Hussein pelos EUA". Não vos parece?

     
  • At 9:34 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Claramente.

    Quanto à pena de morte nos EUA, nada há a fazer. Demorarão seguramente mais tempo do que os países europeus a fazer o mesmo trajecto humanista. Talvez porque o espírito de pioneiro e de auto-defesa esteja ainda muito arreigado.

    Quanto à aplicação de pena de morte a Saddam Hussein pelos EUA creio que - não obstante a óbvia ligação - a pena foi aplicada por um tribunal Iraquiano... Em termos formais, bem sei. Materialmente, já adiantei quais seriam as consequências.

    A menos, é claro, que os EUA tenham começado já a conversar com alegados actores do eixo do mal (ex. Síria) com forte componente sunita...

     
  • At 11:24 da manhã, Blogger Paulo Martins said…

    NMB,

    Seguindo o teu raciocínio utópico não existia moldura penal para nenhum crime. Rigor é fazer aplicar a pena adequada para o tipo de crime praticado.

    Miga,

    (grande dia te espera, grande abraço e que corra tudo bem)
    qualquer pena é um acto de violência, a pena de prisão retira a liberdade. Não passa pela cabeça abolir a pena de prisão porque se está a retirar a liberdade ao criminoso que cometeu um crime de sequestro (retirando a liberdade à sua vítima), isto é fazer pagá-lo na mesma moeda.

    Quanto à pena de morte, esta foi aplicada por um tribunal iraquiano, que tal como em muitos outros países do mundo é aplicada a pena de morte.

     
  • At 12:00 da tarde, Blogger tiroliro007 said…

    Caro Miga
    Também eu sou contra a pena de morte e fiquei chocado com a situação que relatas.
    Discordo, no entanto, do teu parágrafo final, pois a lei aplicável foi a local e não a americana. Por mais que não me identifique com o bush e com os americanos e por mais que considere que sem dúvida foram os principais causadores deste desfecho devo alertar-te que foi aplicada lei iraquiana e não americana.

     

Enviar um comentário

<< Home