Tertúlia Liberal

Pretende-se REFLECTIR o mundo e a sociedade, com uma nota crítica mas sem pessimismos.

segunda-feira, março 26, 2007

And the winner is...

António de Oliveira Salazar.

Comentários?

19 Comments:

  • At 9:52 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    A frase nunca poderia ser 'And the winner is ...', pela simples razão que só num país em que se adopta estrangeirismo para a língua portuguesa é que um homem como Salazar poderia ganhar.
    O final deveria ser: 'Aqui nesta aldeola, atrasada, com um povo aculto, que algures no tempo foi glorioso quem ganhou um 'pseudo-concurso' foi um aldeão que usava botas feitas por encomenda e que nunca saiu orgulhosamente da sua aldeia, de seu António de Oliveira Salazar'.

     
  • At 12:05 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Pirata Verde,

    1. Errado. A frase não poderia ser outra senão: "Aqui nesta aldeola, atrasada, com um povo aculto, que algures no tempo foi glorioso os dois finalistas foram um ditador de direita e um candidato a ditador de esquerda.".
    1.1. Note-se que o primeiro ainda contribuiu para reestabelecer a autoridade do Estado e a estabilidade das finanças... Não obstante a aleivosia do regime a que presidia.
    1.2. Registe-se que o segundo sempre apoiou todas as purgas no seu partido, bem como toda a actuação da URSS - o Sol do Mundo, nas suas palavras - e que não obstante o genérico falhanço da ideologia que sustentava nunca conseguiu evoluir no pensamento.

    2. Algo está mal quando, em face da vitória de um ditador de direita num concurso televisivo e a título póstumo se apela à censura e à Constituição.
    2.1. Naturalmente, do candidato a ditador apenas se diz ser demasiado modesto. Não que algúem tenha contestado...

    3. Um país onde Salazar vença, dezenas de anos mais tarde e com todo o lastro antidemocrático que representa, num concurso de popularidade é um país sem esperança.
    3.1. Recordo, teve cerca de 90.000 votos.

     
  • At 12:58 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Salazar e Cunhal nunca deviam ter ido a concurso. Para qualquer exercício de História (e este apesar de reles e simplório era um exercício de História) é preciso distanciamento. As votações dos 2,que chegaram quase aos 60%, provam isso mesmo.

    Para muitos portugueses votantes a razão do seu voto foi de protesto, saudosismo, reconhecimento, ...

    Duvido que qualquer deles quisesse experimentar um regime político com Salazar ou Cunhal.

    No programa, não gostei de ver a Odete Santos, na sua já habitual falta de educação e pouca tolerância por quem expressa um pensamento contrário ao seu.

     
  • At 2:33 da tarde, Blogger tiroliro007 said…

    Meus amigos,
    Num estilo gato fedorento, diria o seguinte:
    Existe censura em democracia? Sim,
    Podemos falar bem de salazar em democracia? Sim
    Os órgãos de comunicação social deixam-nos falar bem de salazar? Não.
    Como vos transmiti e ontem foi salientado pelo Dr. Jaime Nogueira Pinto, isto é uma brincadeira, um concurso, do qual nem sabemos o número de votantes.
    Todavia, uma vez que apenas se salientam e repetem os aspectos negativos de salazar (com os quais eu concordo) realço as seguintes virtudes:

    1) Foi chamado em missão de urgência porque a 1.ª república tinha arruinado as finanças do nosso país. Não queria ser líder político. Este aspecto parece-me relevante pois não tinha ambições nesta matéria;
    2) Tinha o culto do mérito na escolha das pessoas para a administração pública. Existem vários exemplos nesse sentido. A própria legislação continha critérios objectivos. E agora?
    3) Era um homem humilde, que subiu por si próprio. Afirmou-se numa sociedade estratificada e corporativa, por mérito próprio sem necessidade de papás e mamãs ou de outros benefícios;
    4)Não são conhecidos casos de corrupção no Estado Novo. Será mérito dele? Do Regime? Ou essencialmente das pessoas que tinham vergonha na cara.

    Não sou salazarista, mas também não sou estúpido e muito menos uma marioneta nas mãos da comunicação social.
    Espero sinceramente que a democracia possa resultar, a bem da nação

     
  • At 4:52 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Tiroliro,

    Foi dito que a votação excedia (ainda resultados parciais) os 200.000 votos (um por telefone, recordo).

    Paulo,

    De acordo.

     
  • At 5:00 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Em termos de ponto de ordem ao que disse:
    1. não patrocino ditadores de espécie nenhuma (esquerda, direita ou ‘centro’);
    2. em nome do ‘reestabelecer … whatever’ foram cometidas as maiores atrocidades. Não existem meios que justifiquem fins; e
    3. um país que voto num ditador ‘aldeão’ é sempre um país pobre.

    Todos os portugueses foram a concurso, não se deve abrir excepção, afinal democracia é isso.
    Concluir que um país tem ‘saudades’ de um ditador, no mínimo é triste. Porquê? Porque ainda não percebeu o conceito de liberdade, ainda não tem segurança em si próprio para fazer as suas próprias análises e tomar as suas iniciativas, está sempre à espera do “Pai”, o Estado para pensar e agir por ele, decididamente é um povo mente-capta.

    É claro que Salazar não queria, e ele próprio sabia, que não era um líder, era inseguro e medroso.
    A origem humilde de Salazar e a sua ascensão ao poder, não é desculpa para nada. O comportamento dele foi o ‘standard’ para filhos de operários e pequena burguesia, chegou ao poder, conviveu com pessoas que sempre tinham tido dinheiro e educação, e para se afirmar como um deles, tornou-se ainda mais de direita e ainda mais inacessível (dizer snob para este caso parece-me demasiado).
    Os comportamentos humanos não variam tanto assim.

     
  • At 5:42 da tarde, Blogger tiroliro007 said…

    Caro Pirata
    Não concordo com a sua leitura de Salazar mas confesso que apreciei o tom equilibrado das suas palavras.
    Eu acho que a grande lição desta votação, que insisto foi uma brincadeira, é que a democracia está claramente doente.
    Não nos falta um pai, como diz. O que nos faltam são referências sobretudo na classe política, quer em Portugal quer na Europa.
    A democracia está ferida. Espero que a ferida não seja mortal.
    Deixo apenas duas breves notas, para não me tornar chato:
    1. A massificação da educação destruíu-a. Os professores, regra geral, são fraquinhos e os alunos são cada vez mais desinteressados;
    2) A corrupção, a pequena cunha e os jogos de interesses são comuns na nossa administração pública.O sistema de avaliação tem como única classificação a nota de Muito Bom.

    Enfim, o outro podia ser aldeão, mas subiu a pulso, sem cunhas e pelo mérito. É isto que pretendo para os meus filhos.
    Salazar não é só isto, mas é também isto, apesar de não vir nos manuais que lemos.

     
  • At 9:48 da manhã, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Pirata e Tiroliro,

    Lá estamos nós a discutir novamente os méritos de um regime autoritário...

    Limito-me a dizer que um regime autoritário é necessariamente mau, que Cunhal não é historicamente mais benévolo ou democrata, que o resultado da votação esclarece o falhanço da democracia.

    Mais reitero que a república redundou - por muito que lhe chamem democrática - em caos e/ou autocracias várias. E que hoje a mediocridade fere a república.

    Salazar era um "aldeão"? Sem dúvida.

    Cunhal era um "candidato a ditador"? Se não era disfarçou bem...

    Sobretudo uma coisa reconheço a um e a outro: são intelectualmente mais bem preparados do que qualquer dos políticos que - em alcateia - hoje gerem os nossos destinos.

     
  • At 11:21 da manhã, Blogger tiroliro007 said…

    Nuno
    Tocaste no ponto onde eu queria chegar.
    Não creio que venhamos a ter políticos tão bem preparados intelectualmente como o Cunhal e o Salazar.
    É uma constatação que me deixa triste e que, apesar de não poder ser atribuída à democracia, a torna excessivamente débil e provoca o alheamento das pessoas da vida política.

     
  • At 3:28 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Concordo que a democracia e os políticos de hoje encerram uma série de defeitos.

    Contudo, chamo igualmente à atenção para o facto da exaltação de políticos como Salazar e Cunhal resultar de um contexto histórico muito particular. O extremo ideológico por ser claro e inequívoco (preto ou branco) tem essa consequência lógica de mobilização. O cinzento é uma côr mais aborrecida, ...

    Se olharmos para qualquer estadista do conturbado séc. XX chegamos a essa conclusão: podemos comparar a grandiosidade de C. de Gaulle com Chirac, Winston Churchill com T. Blair, até Hitler terá ainda hoje mais apoiantes convictos e militantes na Alemanha que a cinzentona Angela Merkel.

    Quais os políticos, os que ainda restam desse extremismo ideológico, e de que mais se fala hoje ? Fidel Castro, Hugo Chávez, Bush, Mahmoud Ahmadinejad (Pres. Irão) ...

     
  • At 4:17 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Paulo,

    Quem lê os estudos do projecto de reforma do Código Civil e/ou escritos vários do Vaz Serra e companhia Limitada e os compara com o SIMPLEX não pode deixar de ficar desiludido.

    Não é um problema de regime político mas de atractividade: os melhores estão naturalmente indisponíveis para a política.

    E isso, meu caro, é a primeira das reformas...

     
  • At 10:40 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Concordo que é necessário trazer qualidade para a política, mas há 30/40 anos atrás não tinhas um privado (de qualidade) como tens hoje.

    Mais, o mercado está aberto e o público (que quer ir a todas ...) não tem capacidade de resposta.

    Repensar (reduzir) as funções do Estado é preciso ...

     
  • At 11:06 da tarde, Blogger Miga said…

    Da votação final resulta, quanto a mim, uma conclusão principal: a esmagadora maioria dos telefonemas foi feito pelos dois grandes grupos que representam os dois primeiros classificados: Fascistas e Comunistas. Claramente. Não estou a ver cidadãos anónimos a votarem em massa no Salazar ou no Cunhal, gastando de cada vez 0,60€ + IVA, mas sim grupos ligados às ideologias políticas destas duas pessoas da nossa História.

    Daí que não concorde tanto com a ideia, ou por outras palavras, não partilho da vossa crítica em relação ao país ou às pessoas do nosso país.

    Mantenho a opinião que tinha sobre o programa, no que respeita, por exemplo, à subjectividade que rodeou a escolha dos 10 finalistas, pelo que não me diz absolutamente nada a "eleição" do 1º, do 2º e 3º "Grande Português".

     
  • At 12:22 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Miga,

    Se assim fosse e tendo em conta a tradicional capacidade mobilizadora do PCP, vivemos num país de direita.

    E ambos sabemos que (infelizmente) assim não sucede.

    PS - "Fascistas" havia em barda em Itália. Por cá tinhas alguns - integralistas - mas o regime autoritário de direita de Salazar era corporativista, mas conservador. Até tinha algo de maurrasiano...

    É, por isso, depreciativo (o que se aceita) mas pouco rigoroso chamar "fascista" ao regime de então.

     
  • At 1:03 da manhã, Blogger tiroliro007 said…

    "Recordarei aqui duas imagens persistentes. Numa manhã de domingo, do ano de Angola Mártir, fui visitá-lo ao forte do Estoril. Como cheguei a pé, não tocaram a sineta que habitualmente chamava para abrirem os portões do caminho de acesso dos automóveis. Subi a breve escada que ali existe. Ao fundo do pátio, onde se encontra a capela, as portas desta estavam abertas. De frente para o altar, a sós com Deus, Salazar cuidava da toalha, e das flores e das velas. Pensei que não tinha o direito de surpreender esta intimidade. Regressei vagaroso pelo mesmo caminho. Pedi para tocarem a sineta. Quando voltei a subir a breve escada do pátio, já ele estava sentado na sua velha cadeira, mergulhado nos negócios do Estado. Era a imagem de um homem de fé segura, sabendo que haveria de prestar contas. A brevidade da vida iluminada pelos valores eternos. O poder ao serviço de uma ética que o antecede e transcende.
    Acrescento outra imagem desse tempo. Recordo os discursos, as notas, as entrevistas, as declarações, em que sucessivamente definia a doutrina nacional de sempre para a crise da época. Tudo escrito pela sua mão. Mas depois, não obstante a urgência e a autoridade pessoal, tinha a humildade de chamar os colaboradores e, em conjunto, discutir, e emendar. A grandeza natural de quem pode aceitar dos outros, sendo sempre o primeiro.
    E assim foi exercendo o seu magistério. Com fé em Deus e recebendo agradecido os ensinamentos do povo. Porque nunca pretendeu sabedoria superior à de entender e executar o projecto nacional. E nunca quis mais do que amar até ao último detalhe a maneira portuguesa de estar no mundo, preservando e acrescentando a herança.
    O Ultramar foi a última das suas preocupações maiores. Como se, ao crescer em anos e diminuir em vida, quisesse guardar todas as energias para sublinhar a essência das coisas. Todos os cuidados para a trave mestra. Doendo-se por cada jovem sacrificado. Rezando, e esperando que o sacrifício fosse atendido e recompensado. De joelhos perante Deus e de pé diante dos homens. Humilde com o seu povo, orgulhoso perante o mundo.
    Assim viveu, acertando ou com erros, mas sempre autêntico. Com princípios. O único remédio conhecido contra a corrupção do poder. E muito principalmente quando se trata de um poder carismático, como era o seu caso. Um desses homens raros que a fadiga da propaganda não consegue multiplicar. Porque ou as vozes vêm do alto ou não existem. Não há processo de substituir o carisma. Por isso, também, essa luz, que tão raramente se acende, é toda absorvida pelo povo, o único herdeiro. Soma-se ao património geral. Inscreve-se no livro de todos. Pertence à História. Transforma-se em raiz.»

    Adriano Moreira

     
  • At 10:40 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    A democracia está doente?! A democracia não é só votar, ter governos que “rodam” de 4 em 4 anos. A democracia é uma forma de estar na vida, a tal vida comezinha, o respeito pelo outro, a responsabilidade por si, o não ter comportamentos distintos só “porque …” (aqui cabem todos os argumentos que uma mente mesmo medíocre consegue criar).
    E aqui cabe o “Pai” (não o biológico, naturalmente), a postura autoritária, o pedir autorização para … (quase tudo), o hábito de pedir, sem lhes passar pela cabeça que somos adultos e que temos mesmo é que tomar iniciativas, correr riscos e sermos responsáveis por eles.
    País democrata?, adulto?, responsável?, quando “anda tudo” a pedir ao “Pai” (leia-se Estado) subsídios. Isto não é doença, é má formação do conceito.
    De facto, Álvaro Cunhal (Homem das Leis e Criativo) e António Salazar (Economista) são, embora em campos diferentes, os dois maiores cérebros que Portugal teve.
    Se eles fossem democratas ter-se-iam entendido, para bem do país.
    Mas não eram.
    Gostei do texto de Adriano Moreira, gostei, como seria de esperar, ele é um dos grandes senhores, ainda vivo. É bom estar atento ao que diz, é certamente uma referência de moderação, ponderação e equilíbrio.
    Atrevo-me a citar J.C. Cooper: “O equilíbrio e a harmonia devem ser encontrados primeiramente na menor unidade, no indivíduo; de outra forma, indivíduos desequilibrados podem – e o fazem – facilmente dominar os governos do mundo. As sociedades totalitárias, sejam fascistas ou comunistas, são fundadas e comandadas por maníacos de poder dispostos a manter o seu governo através da astúcia desmedida, da fraude e do assassinato; …, a história da humanidade é muito mais a história do poder do patológico sobre o normal. Desejar o poder sobre os outros já é, em si, um estado mental patológico.”

     
  • At 12:13 da tarde, Blogger Nuno Moraes Bastos said…

    Tiroliro, Pirata Verde e demais,

    Até agora e seguido de perto pelo post sobre a ETA, foi este o que mais gosto me deu comentar por estas bandas.

    Estou-Vos, naturalmente, agradecido.

     
  • At 2:02 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Para nmb:
    Pela parte que me toca, obrigado.
    Gosto sempre de 'falar' com gente inteligente.

     
  • At 5:26 da tarde, Blogger tiroliro007 said…

    Muito obrigado NMB.
    Para mim, também foi gratificante participar neste tema, discutindo-o com pessoas inteligentes
    Pretendi essencialmente, com elevação, destacar as qualidades de alguém a quem apenas são apontados defeitos.
    Repito, apesar de não ser salazarista, penso que a minha defesa resultou em muito da atitude pouco democrática e intolerante de o tentarem excluir da lista sujeita a votação.
    Quem o fez, teve a resposta que merecia. Espero não os voltar a ouvir falar de Humberto Delgado.:)

     

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