Tertúlia Liberal

Pretende-se REFLECTIR o mundo e a sociedade, com uma nota crítica mas sem pessimismos.

segunda-feira, agosto 14, 2006

A hecatombe adiada

O médio oriente sempre se assomou como um dos poucos casos em que nada tem remédio e ninguém tem razão.

Na verdade, os radicalismos que, de parte a parte, se verificam sempre se diriam impeditivos de qualquer solução negociada. Radicalismos de cariz nacionalista ou internacionalista, religioso ou territorial, nada naquele punhado de areia parece resultar de outra fonte que não um estrito equilíbrio de forças... e este precisa de ajustes periódicos.

Como convencer um qualquer nacional israelita a abdicar dos Montes Golan, com toda a sua importância estratégica, quando estes lhe conferem uma vantagem significativa perante a Síria, que se entreteve, directa ou indirectamente, a atacar o seu vizinho durante as últimas dezenas de anos? Como convencer um colono israelita a abandonar um pedaço de terra pedregoso e semi-desértico onde, com esforço, conseguiu fazer florir algo?

Mas Israel tem tanto de vítima como de culpado... Não sei se de mote próprio, mas seguramente pelo pecado original de que padece: foi criado artificialmente.

Sejamos francos: por muito que tenham sido perseguidos, em especial durante o século XX, que lhes dá o direito de ocuparem uma terra que não é sua (pelo menos nas últimas centenas de anos) e, contra tudo e contra todos anunciarem o seu direito à ocupação de locais que, historicamente, tanto têm de seus como dos demais? Algum dos leitores deste blogue reconhece aos inúmeros ingleses que vivem no Algarve o direito a proclamarem a secessão?

Quanto ao mais, e porque todos têm um lado, sempre assumi nesta questão uma postura moderadamente compreensiva para a posição de Israel. Como diria Pinheiro de Azevedo, é chato ser invadido "every now and then" só porque um sujeito barbudo (alguns com aparentes maus hábitos de higiene) exorta à guerra santa. Pode ser do meu mau feitio, mas é chato.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Sensibilidade e bom senso

Aceite um novo desafio profissional e as turbulências inerentes a qualquer mudança, regresso a este fórum em plena silly season. E poucas terão, nos últimos anos, merecido com idêntica justeza o epíteto.
Reporto-me às "sensibilidades" de Advogados, enquanto líderes de escritórios concorrentes ou simples representantes de uma "casta" profissional relativamente às palavras de Júdice.
Guardo para mim a opinião que tenho do escritório de que este é sócio nas suas diversas práticas, mas não deixo de registar que a ideia fundamental avançada por Júdice prendia-se com a constituição de um painel de consultores jurídicos do Estado para determinadas matérias.
Na Ordem dos Advogados cruzam-se várias tendências e abordagens da advocacia; integram os órgãos da Ordem reformistas e tradicionalistas, práticas internacionais e locais, Advogados que praticam advocacia internacional e outros que se dedicam ao que sempre (com idêntica dignidade) foi tarefa de um Advogado.
O meu entendimento sobre a Ordem, o nosso Bastonário, o actual equilíbrio de poderes ou quaisquer outras matérias conexas em nada influi a minha opinião pessoal sobre o episódio Júdice.
Por partes, e para discussão, entendo que:
1. A Advocacia, como outras actividades, é uma prática heterogéna e - por isso - apta a uma estratificação clara e operada segundo critérios uniformes. Se o Estado pré-selecciona as instituições financeiras e consultoras que lhe podem prestar assessoria financeira em projectos de grande dimensão, não vejo por que não o possa fazer em relação a Advogados ou Sociedades de Advogados.
2. Os níveis de especialização exigidos na assessoria jurídica prestada em determinados sectores de actividade determinam a necessidade de recorrer - queira-se ou não - a um número mais ou menos limitado de opções.
3. É de gosto duvidoso, sobretudo quando se trata de um ex-bastonário, recorrer ao auto-elogio para reforçar uma ideia que, em si mesma, poderia sustentar-se com outra credibilidade.
4. É tecnicamente inadequado, deontologicamente duvidoso e mediaticamente insensato limitar temporalmente a defesa do arguido, sobretudo com um timelimit inferior ao beneficiado pela "acusação" e deixá-lo - ultrapassado o tempo - literalmente a falar sózinho. Tanto quanto me apercebi - com as minhas limitações técnicas - o processo disciplinar não é um concurso televisivo, não é arredio aos princípios mais elementares de justeza e isonomia processual, não é um exercício ilimitado do poder de direcção do processo.
5. Aos Bastonários, o actual que tudo parece tolerar, o anterior que tudo aparenta por em causa, terá faltado a sensatez de terminar a escalada - mediática e processual - do caso Júdice. Espero que o bom senso acabe por sobrevir.
É que a Ordem não é um "reality show", nem deve ser - pelo menos apenas - uma feira de vaidades. Até porque - diz-se - "A vaidade é o espelho dos tolos".